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  As famosas bodegas podem ser consideradas um verdadeiro patrimônio da cultura nordestina e especialmente no Cariri. Essas pequenas mercearias se destacam pela estrutura quase inalterada de décadas passadas, mesmo com tantas inovações tecnológicas e mudanças nas formas de pagamento, como, por exemplo as maquinetas e computadores. Os vendedores são geralmente os proprietários, tendo, na maioria das vezes, a ajuda de algum membro da família.

FIADO SÓ AMANHÃ!

Foto da página do facebook “Suricate Seboso”

No Crato, conversamos com Seu Bezerra, que tem sua bodega desde abril de 1978. A “Mercearia Bezerra”, organizada por ele e sua esposa Ivani, tem uma clientela fiel que ainda compra “fiado na caderneta”, um sistema em que as compras são anotadas e quitadas mensalmente. Quando perguntado se a vinda dos grandes supermercados afetou as vendas, ele nos diz que, ao contrário do que se imaginava, essas grandes redes, como o Atacadão, Assaí e São Luiz, passaram a contribuir para o abastecimento do estoque. “Fez foi ajudar em muitos pontos! Ajudou a gente, os pequenos. Porque a gente vivia aqui num monopólio que eram duas, três empresas que forneciam pra gente e faziam o que queriam! Era um cartel, os preços eram eles que ditavam, era aquela coisa... É tanto, que se acabaram”, relata.

 

Segundo seu Bezerra, sempre que um supermercado de grande porte vinha para a região, as pessoas achavam que seria o fim das bodegas. “Eu acho que essas redes foram ruins pro comércio médio e para o grande, que a gente pensava que era grande, mas não era não. Pra esses aí foi ruim, mas pra gente pequeno, fez foi melhorar”, conta.

Seu Bezerra e sua esposa, Ivani. No balcão, a variedade de mercadoria: Rapaduras, refrigerantes e pães, estão dentre os produtos

Dona Daura Maria tem uma bodega no bairro Seminário, também em Crato, há dezesseis anos, o Mercadinho Opção. Segundo ela, o estabelecimento começou como um pequeno frigorífico, mas, devido à demanda do mercado, os produtos foram aumentando, chegando a se concretizar uma bodega. Dona Daura diz que enfrentou algumas dificuldades para se manter no comércio com a vinda das grandes redes de supermercado, pois essas empresas absorvem um número maior de clientes. “Mas o que eu gosto mesmo é de estar com a clientela”, confessa.

 

 No seu comércio, os clientes mais fiéis são os aposentados, que compram no mercadinho fiado o mês inteiro e, ao receberem o aposento, quitam a dívida. Dona Daura considera a bodega um complemento na renda, pois já é aposentada. Ela vive no comércio primeiramente por gostar de servir bem e estar em contato direto com a clientela, que é antiga, com quem desenvolveu uma relação de fidelidade.

Conversamos com o Professor Tiago Alencar, do curso de Administração de Empresas, da Universidade Federal do Cariri (UFCA). Na entrevista, ele nos explica quais fatores que mais contribuem para a permanência das bodegas, mesmo com a vinda dos grandes supermercados.  

 

 Segundo ele, um dos fatores que favorece a continuidade desse tipo de comércio é a diferença entre o público consumidor dessas mercearias e o público dos grandes supermercados. “Os compradores de mercadinhos de bairro têm uma certa dependência até do ‘fiado’. O ‘fiado’ ainda existe hoje em dia! Se a gente for trazer pra dentro do sistema comercial dos grandes supermercados, vemos que eles trabalham com o pagamento a vista ou com o cartão de crédito”, explica. Outro fator favorável à compra nas bodegas é a comodidade que, segundo o professor Tiago, gera laços culturais e de amizade entre o consumidor e o comerciante.  

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